Peixes podem reconhecer rostos humanos? Novo estudo indica que sim

15-12-2016 10:57

Uma pesquisa, realizada por uma equipe de cientistas da Universidade de Oxford no Reino Unido em parceria com a Universidade de Queensland na Austrália, descobriu que os peixes-arqueiros são capazes de aprender a reconhecer rostos humanos com um alto grau de precisão. Essa descoberta é impressionante, pois tal tarefa requer habilidades de reconhecimento visual altamente sofisticadas que, não obstante estudos anteriores terem evidenciado a capacidade de memória dos peixes, até agora o reconhecimento de uma face era considerado uma capacidade exclusiva de cérebros mais complexos como o de aves e alguns mamíferos. O estudo foi publicado na revista Scientific Reports.

Primeiro autor Dr. Cait Newport, Pesquisado do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, afirma que: “Ser capaz de distinguir entre um grande número de rostos humanos é uma tarefa surpreendentemente difícil, principalmente devido ao fato de que todos os rostos humanos compartilham a mesmas características básicas”. Todas as faces têm dois olhos acima de um nariz e boca, portanto, para contar as pessoas separadas, devemos ser capazes de identificar diferenças sutis em suas características. Se você considerar as semelhanças em aparência entre alguns membros da família, essa tarefa pode ser realmente muito difícil.

Os peixes podem reconhecer rostos e pessoas?

 

 

Foi posta a hipótese de que, devido à dificuldade dessa tarefa ela só poderia ser realizada por primatas, que têm um cérebro grande e complexo. O fato de que o cérebro humano tem uma região especializada usada para reconhecer rostos humanos sugere que possa haver algo a respeito disso. Para testar essa teoria, queríamos determinar se outro animal com um cérebro menor e mais simples, e sem necessidade evolutiva para reconhecer rostos humanos, ainda seria capaz de fazê-lo.

 

Os pesquisadores descobriram que os peixes, que não têm o córtex visual sofisticado encontrado nos primatas, são, contudo, capazes de diferenciar um rosto de específico. A pesquisa fornece evidências de que peixe (vertebrados que não possuem uma parte do cérebro chamada neocórtex) tem impressionantes habilidades de discriminação visual.

Os Peixes-arqueiros (Toxotes jaculatrix) fazem parte de uma espécie de peixe de água doce tropical bastante peculiar, eles têm o costume de cuspir um jato d’água através da boca para alvejar insetos acima da superfície da água.

No estudo, foram apresentadas aos peixes-arqueiros duas imagens de rostos humanos, então eles foram treinados para escolher entre um deles usando seus jatos d’agua para sinalizar o rosto memorizado. Depois disso os peixes foram então apresentados ao rosto que foram treinados juntamente com uma série de novos rostos e foram capazes de escolher corretamente a face que tinham inicialmente aprendido a reconhecer. Eles foram capazes de realizar essa tarefa, mesmo quando as características mais óbvias, como forma da cabeça e cor, foram retiradas das imagens.

Os peixes foram altamente precisos quando selecionaram a face correta, atingindo um desempenho médio de pico de 81% no primeiro experimento (escolhendo o rosto previamente aprendido entre 44 faces novas) e 86% no segundo experimento (em que as características faciais, como brilho e cor foram padronizadas).

De acordo com o Dr. Newport: “Os peixes têm um cérebro muito mais simples do que os seres humanos, no qual inexiste a parte do cérebro que os humanos usam para reconhecer rostos”. Apesar disso, muitos peixes demonstram comportamentos visuais impressionantes e, portanto, se se mostram uma boa espécie para testar se cérebros simples podem desempenhar tarefas complicadas.

Metodologia usada na pesquisa

Peixes podem reconhecer rostos humanos? Novo estudo indica que sim

Peixe-arqueiro

No estudo foi posicionado um monitor de computador que mostrava imagens de rostos humanos acima dos aquários e os treinou para cuspir em um rosto particular. Uma vez que o peixe tinha aprendido a reconhecer um rosto, em seguida, era mostrado aos peixes o mesmo rosto, mas dessa vez entre muitos outros rostos novos.

Em todos os casos, o peixe continuou a cuspir na cara que eles tinham sido treinados para reconhecer, provando que eles eram capazes de identificar rostos específicos. Mesmo quando fizemos isso com caras que eram potencialmente mais difíceis de reconhecer, pois estavam em preto e branco e a forma da cabeça foi padronizada, os peixes ainda assim foram capazes de encontrar o rosto que eles foram treinados para reconhecer.

Exemplos representativos de imagens de rostos usados na Experiência

Exemplos representativos de imagens de rostos usados na Experiência

O cérebro dos peixes e o reconhecimento facial

 

 

O fato de que o peixe-arqueiro pode aprender esta tarefa sugere não é necessário um cérebro mais complexo para reconhecer rostos humanos. Seres humanos podem ter estruturas especiais no cérebro para o reconhecimento facial, de modo que, são capazes de processar um grande número de faces com grande eficiência e velocidade e sob uma ampla gama de variações na observação.

 

O Reconhecimento da face humana foi demonstrado em estudos anteriores em aves. Porém, ao contrário dos peixes, eles são agora conhecidos por possuírem estruturas parecidas com o neocórtex (parte mais desenvolvida do cérebro). Além disso, os peixes provavelmente não evoluíram a capacidade de distinguir entre rostos humanos.

Referências

Cait Newport, Guy Wallis, Yarema Reshitnyk, Ulrike E. Siebeck. Discrimination of human faces by archerfish (Toxotes chatareus). Scientific Reports, 2016; 6: 27523 DOI: 10.1038/srep27523


Fonte: cienciaetecnologias.com/peixes-podem-reconhecer-rostos-humanos-novo-estudo-indica-sim/
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